terça-feira, 9 de outubro de 2012

Torcicolo




É um distúrbio do pescoço caracterizado pela contracção contínua dos músculos dessa região, e por estes também se tornarem mais rígidos fazendo com que os movimentos da cabeça se tornem muito dolorosos e limitados.

Tipos de torcicolos:

·         Congénito: caracterizado pela posição viciosa da cabeça (inclinação para o lado da lesão, rotação para o lado oposto à lesão e flexão da cabeça) e aparecimento progressivo de assimetrias facial e craniana. Deve-se à fibrose e encurtamento do músculo esternocleidomastóideo devido a um mau posicionamento do feto, a lesão nervosa ou a um traumatismo directo no músculo que ocorre nas últimas semanas de vida intra-uterina ou durante o parto. Pode ser detectado logo após o nascimento, mas muitas vezes só se observa semanas ou meses depois. O músculo habitualmente apresenta uma tumefação palpável, que tende a desaparecer antes do ano de idade. (Serra, 2001) (kisner & Colby, 1989)
·         Espasmódico: ocorre devido a espasmos neurológicos irreversíveis, de causa desconhecida, desviam frequentemente a cabeça para um lado.
·         Traumático: (tem resolução espontânea)
o   Repentino por contractura muscular: contracção permanente do músculo esternocleidomastóideo que pode ser resultado de uma má postura do pescoço, um movimento brusco, tensão, exposição ao frio ou má posição ao dormir. (Serra, 2001)
o   Subluxação rotatória atlantoaxial: resultante de uma manobra súbita de torção do pescoço que origina um espasmo muscular firme e exuberante. (Serra, 2001)
·         Por mal formação da ráquis: devido a hemivértebras ou fusões
·         Infeccioso: aumenta a laxidez ligamentar devido á proximidade com as articulações
·         Por artrite
·         Ocular: devido a paralisia óculo-motora
·         Por tumor ósseo, cerebral ou medular

Torcicolo congénito

O torcicolo congénito está associado a luxação congénita da anca (em 20% dos casos), a malformações das vértebras e a escolioses idiopática infantil.

Etiologia
A sua causa não está completamente esclarecida, pensa-se estar associado a um traumatismo local dos tecidos moles do pescoço imediatamente antes ou durante o parto. Colocam-se várias hipóteses:
·         Má posição fetal
·         Hemorragia intramuscular por traumatismo
·         Isquemia muscular (estase venosa, quase sempre resultando em cirurgia)
·         Utilização de fórceps
·         Pressões intra-uterinas inadequadas

Epidemiologia
É uma doença relativamente rara, 4/1000 nados vivos. É a 3ª anomalia músculo-esquelética congénita mais comum a seguir à displasia da anca e ao pé boto.
A proporção entre sexo feminino e masculino é de 3:2 e é mais frequente nas crianças nascidas de parto com apresentação pélvica 30%.

Prognóstico
O prognóstico depende da idade e em função da sua evolução são distinguidos fundamentalmente dois tipos de torcicolo.
·         Torcicolo congénito postural: presente à nascença com uma frequência de 2,8%. Difícil de examinar numa criança nos primeiros dias de vida. Esta forma resultante das contracções uterinas, regride muito bem após o nascimento na maioria dos casos.
·         Torcicolo muscular congénito: pode existir desde o nascimento, à palpação sente-se o nódulo no esternocleidomastóideo que se apresenta como doloroso. Existe uma rotação permanente da cabeça e frequentemente uma plagiocefalia associada. A evolução habitual desse nódulo é o desaparecimento espontâneo em 2 a 6 meses em 50% dos casos sem deixar marcas. A outra metade evolui para uma fibrose retráctil do músculo com ou sem torcicolo nos primeiros meses ou anos.

Problemas associados:
·         Anomalias da coluna cervical envolvendo C1, C2
·         Anomalias atlanto-occipitais congénitas
·         Deformidades dos pés (metatarsus aductus)
·         Plagiocefalia
·         Atitudes escolióticas
·         Modificação do eixo-visual
·         Desordens do SNC



Tratamento do Torcicolo Muscular Congénito

·                    Tratamento Conservador
Na maioria dos casos (80%) a fibrose não é suficiente para necessitar de cirurgia correctiva, sendo aplicado um tratamento conservador durante os primeiros 12 meses. A prática baseada na evidência segundo estudos de Morrinson revelam resultados bons a excelentes em 84% dos pacientes diagnosticados antes do 1.º ano de vida; e estudos de Binder uma resolução completa em 70% das crianças tratadas antes de um ano de vida, independentemente da gravidade ou presença de massa fibrótica.
Na criança de meses a manobra de distensão do músculo esternocleidomastóideu, repetida várias vezes ao dia, pelo fisioterapeuta, ou pela mãe da criança após instrução prévia. A manobra consegue vencer o encurtamento e compensar o crescimento.
Os exercícios de estiramento podem ser divididos em duas etapas e devem ser realizados por duas pessoas. Enquanto uma pessoa fixa ambos os ombros da criança, a outra segura a cabeça com uma mão na base do crânio e outra na mandíbula, tracionando suavemente. Na primeira etapa o objectivo da tracção é afastar a cabeça dos ombros e em seguida fazer rotação da cabeça em direcção ao lado oposto de modo a que a mandíbula se aproxime do ombro oposto ao músculo lesado. A tracção deve ser mantida por 10 segundos. Na segunda etapa deverá ser feita uma ligeira flexão da cabeça e ligeira rotação para o lado oposto à lesão e inclinar lateralmente até a orelha estar em contacto com o ombro.
Inclui:
- aplicação de órteses
- exercícios de alongamento passivo do esternocleidomastóideu e trapézio inferior no lado envolvido
- mobilização da cintura escapular
- ADM activa  (rotação para o lado envolvido) com:
-- exercícios de fortalecimento do músculo esternocleidomastóideu
--técnicas de manuseio e posicionamento para corrigir a posição da cabeça do bebé durante a alimentação e o sono para promover a rotação activa. Ex: Maintland
-- aos 3/4 meses, a  inclinação lateral do pescoço para fortalecer o músculo esternocleidomastóideu alongado no lado não envolvido é iniciada por meio de actividades de desenvolvimento como o endireitamento da cabeça e o rolar.

Implicações a longo prazo, em crianças com recuperação completa:
- assimetria facial persistente
- inclinação intermitente da cabeça com fadiga
- doença e assimetria funcional (semelhante a hemiplegia mas com exames neurológicos normais)

Duração do tratamento (resolução completa):
- bebés com massa fibrótica: 6,9 meses
- bebés sem massa fibrótica: 4,7 meses

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