quinta-feira, 25 de outubro de 2012

AVC - Tratamento Fisioterapia




ü  Fisioterapia no paciente inconsciente
Nesta fase a fisioterapia é necessária essencialmente para prevenir retenção e acumular de secreções, atelectasia, broncopneumonia, e problemas a nível músculo-esquelético e pode incluir as seguintes intervenções:
Ø  Função respiratória
o   Mudanças de decúbito regulares e frequentes
o   Técnicas de percussão e vibração do tórax, drenagem postural (se indicado ou se o paciente está inconsciente por um período prolongado) e se necessário algumas formas de entubação.
Ø  Integridade músculo-esquelética
o  Exercícios passivos de ADM com o objetivo de melhorar a circulação e prevenir rigidez.
o  Posicionamentos para evitar encurtamento muscular e úlceras de pressão.
o  Exercícios ativos devem ser introduzidos logo que o paciente fique consciente, isto reduz a probabilidade de ocorrência de complicações clínicas associadas ao repouso como pneumonia e trombose venosa profunda, que são comuns no AVC.

ü  Estágio de recuperação com o paciente consciente
Em geral pode-se iniciar uma reabilitação ativa se não existir progressão dos défices neurológicos e se o paciente estiver clinicamente estável dentro de 48h.
Princípios gerais do tratamento incluem:
  • Antecipar e prevenir contracturas de tecidos moles
  •  Ajudar a que haja atividade muscular
  • Trabalhar o controlo motor
  •  Melhorar a força muscular
  • Mobilização articular
  • Treino da resistência cardiovascular
Uma sessão de fisioterapia deve incluir prática do controlo ativo das posições sentadas e de pé, do movimento ativo dentro destas posições e prática de tarefas que são tipicamente desempenhadas nestas posições como alcançar e manipular objetos. O levantar, o sentar (aqui pode usar-se um banco ou marquesa mais altos para ser mais fácil) e caminhar também se devem trabalhar segundo os procedimentos aprendidos do conceito de bobath.
Em geral é relatado que o maior potencial de recuperação do membro superior ocorre nos primeiros 3 meses, no entanto outros estudos de treino do MS, mais de um ano após o AVC, mostraram recuperação substancial além do período de 3meses.
A natureza complexa do uso da mão, requerendo a coordenação de vários músculos e segmentos, e a natureza da lesão em si podem ser fatores significativos para a pouca recuperação. Entretanto, existem outros fatores que podem ter um impacto negativo sobre o resultado após o AVC. Um destes fatores é a ideia de que toda a recuperação da função do braço é intrínseca, inferindo que o que a pessoa faz, o que acontece ao indivíduo após a lesão, incluindo a terapia, têm um efeito pequeno sobre a recuperação.
Do ponto de vista dos autores, a pobreza de recuperação pode refletir não apenas os efeitos diretos da lesão em si, mas também as intervenções terapêuticas inapropriadas e insuficientes para o MS, a facilidade com a qual os pacientes usam apenas uma mão, quando estão no hospital ou no centro de reabilitação (os terapeutas devem ter em atenção que o paciente não realize as ações com o membro não comprometido), e os efeitos de imobilidade na adaptabilidade dos tecidos moles.
A reabilitação é também dificultada por “crenças” comuns na comunidade de reabilitação que governam as intervenções preconizadas. Três pontos de vista ainda são expressos na literatura: um que considera que a recuperação ocorre de proximal para distal; o segundo, que a estabilidade e o controlo do ombro são necessários antes do uso da mão; e o terceiro, que a espasticidade precisa de ser inibida antes do uso ativo do membro. Tais crenças resultam em esforços terapêuticos precoces concentrados no ombro (em apoio passivo através do braço, não em ações de alcance ativas) e que negligenciam a mão.
Há uma grande evidência de que o treino específico, intensivo e relacionado à tarefa, com prática repetitiva de movimentos relevantes, tem um resultado mais positivo na função motora dos membros superiores.
As adaptações secundárias que ocorrem pós-lesão, principalmente como resultado de desuso, incluem, com frequência, alterações associadas ao comprimento nos músculos e em outros tecidos moles. Os músculos mantidos encurtados por longos períodos de imobilização encurtam-se ainda mais, logo quando são ativados geram tenção a pequenos comprimentos. Os músculos que geralmente se encurtam são os adutores e rotadores internos do ombro, flexores de dedos e punho, flexores do cotovelo, pronadores e adutores do polegar. Esta consequência da paralisia muscular e do desuso é prevenível por exercícios ativos intensivos do membro, por alongamento passivo realizado durante o dia enquanto os músculos permanecem paralisados e através de massagem inibitória específica dos músculos do MS.   
ü  Prática bilateral 
É necessário treinar ações bimanuais uma vez que os dois membros trabalham cooperativamente na maioria das ações quotidianas. Nestes pacientes, no inicio deve enfatizar-se a ativação muscular e a pratica de tarefas do lado comprometido para maximizar a recuperação da função, no entanto se não houver prática das atividades bilaterais, é provável que mesmo com a recuperação do membro comprometido muitos indivíduos não adquiram o uso bilateral funcional e efetivo das mãos.
Para a prática destes exercícios pode começar-se por exemplo com um trabalho cooperativo de ambas as mãos para pegar e manipular um objeto usando cada mão para manipular uma ação diferente (abrir uma lata) ou um trabalho em que ambas as mãos realizam a mesma tarefa na mesma direção (enrolar um toalha) ou em direções diferentes (bicicleta de braço).
Pacientes com um nível de recuperação mais avançado precisam de tarefas mais intensas que requerem que os dois membros cronometrem os seus movimentos de acordo com um evento externo (pegar uma bola).

ü  Treino sensorial
O treino sensorial esta implícito em tudo o que se falou anteriormente, pois usando diferentes objetos (diferentes formas, texturas e tamanhos) já se esta a oferecer a possibilidade de aumentar a habilidade da pessoa em selecionar, prestar atenção e responder aos impulsos sensórias relevantes e a usar a informação para controlar a força muscular e a coordenação dos segmentos dos membros.

ü  Treino da marcha
O treino de marcha foi definido como um conjunto de atividades centradas na aquisição de competências para a deambulação, em superfícies planas e escadas.
  • ·         Treino de equilíbrio: tem como objetivo ajudar o corpo a manter o equilíbrio, numa posição estática ou dinâmica;
  • ·         Treino de postura: intervenção concebida para melhorar o alinhamento e posição do corpo em relação à gravidade, centro de massa e base de suporte;
  • ·         Aprendizagem motora: definido como intervenção que proporciona práticas ou experiências capazes de mudar a capacidade de executar ações qualificadas.
Para treino de marcha pode se usar uma passadeira, esta tem mostrado ter resultados positivos.

Deficiências cognitivas, linguísticas e afectivas relacionadas com a intervenção do Ft
Atualmente, reconhece-se que todos os processos mentais consistem em perceber, pensar, aprender e lembrar, até mesmo as tarefas mais simples requerem a coordenação de várias regiões do cérebro. Após AVC podem ocorrer défices que são categorizados como desordens da linguagem, que também interferem na função cognitiva (disfasia/afasia): desordens percetuais-cognitivas (ex: de perceção, orientação, memória, execução da função), depressão e outras perturbações emocionais e comportamentais. Todos estes problemas afetam o estado mental do indivíduo e têm potencial para afetar significativamente a capacidade do indivíduo participar e de beneficiar da reabilitação.
Ø  Afasia
As afasias (normalmente disfasias, já que raramente existe uma perda total da linguagem) são perturbações da linguagem causadas por uma lesão em regiões específicas do cérebro (normalmente regiões do córtex cerebral esquerdo). Podem ser distinguidos vários tipos de afasia, como a afasia de Wernicke, afasia de Broca, afasia anômica e afasia global.
Num paciente após AVC, em que subitamente se encontra incapaz de entender a linguagem oral, ler, falar ou escrever e de comunicar as suas necessidades mais simples, existe uma tentativa de isolamento, podendo estes problemas levar a irritação e frustração após as tentativas falhadas de comunicação. A participação de um terapeuta de fala é essencial para que, a equipa multidisciplinar tenha conhecimento da melhor forma de comunicar com o indivíduo e porque a persistência destes problemas pode levar a consequências graves na qualidade de vida do mesmo.
            A intervenção varia consoante o tipo e a gravidade da afasia. Os fisioterapeutas devem ter em atenção alguns detalhes, quando o paciente ainda não foi avaliado por um terapeuta da fala, como:
  • ·                  Não excluir o indivíduo da conversação, ou responder por ele;
  • ·                  Manter frases curtas e simples, sem muita informação;
  • ·                  Proporcionar tempo para que a pessoa responda e para trocar de assunto;
  • ·                  Organizar as perguntas de forma a que possam ser respondidas com sim/não ou alguma outra forma de resposta, quando exista afasia de expressão;
  • ·                  Usar gestos, pistas situacionais, estímulos visuais e expressão facial para aumentar a comunicação/compreensão;
  • ·                  Manter contacto visual, já que este facilita a comunicação e as atitudes mais positivas;
  • ·                  Ser honesto no desenvolver da comunicação e relação com o indivíduo. Por exemplo, quando o terapeuta não entendeu uma resposta, é melhor dizer que não entendeu e pedir para tentar novamente, podendo ajudar com dicas, ou brincar no caso do paciente se sentir frustrado;
  • ·                  Desencorajar o uso repetitivo de palavras e frases, caso elas interfiram na comunicação real.

Ø  Função cognitiva
Embora, eventualmente, a capacidade mental de muitos indivíduos retorne completamente após AVC, estes indivíduos requerem avaliação e treino para as suas limitações específicas a fim de ajudá-los a participar ativamente no processo de reabilitação e voltar às suas atividades funcionais. Um défice para o qual o treino específico pode ser requerido é o da memória. Durante as sessões de fisioterapia o terapeuta para encorajar estes indivíduos a codificar, armazenar e recordar a informação deve:
  • ·      Simplificar a informação;
  • ·      Reduzir a quantidade de informação dada de uma vez;
  • ·      Assegurar que ocorra o mínimo de distração;
  • ·      Fazer com que a informação seja compreendida (por exemplo pedir que repita por suas palavras);
  • ·      Encorajar o paciente a relacionar a informação com material já conhecido;
  • ·      Encorajar o paciente a fazer perguntas;
  • ·      Usar a regra de comunicação “pouca, mas frequente”;
  • ·      Fazer com que a aprendizagem ocorra em contextos diferentes, para promove a generalização.
Outras estratégias incluem reorganização do ambiente, uso de ajudas externas (cadernos, diários e microcassetes) ou mnemónicas internas (porém muitos indivíduos não têm concentração suficiente para usar esta estratégia).

AVC - INEM/ Via Verde




Abordagem Pré-Hospitalar

A emergência pré-hospitalar é uma das peças que contribui para a rapidez e eficácia da via verde AVC uma vez que é aqui que surge o primeiro pedido de auxílio.
A coordenação do tratamento pré-hospitalar e de encaminhamento dos doentes para os locais adequados é da responsabilidade do INEM através dos centros de orientação de doentes urgentes (CODU). Compete aos CODU atender e avaliar os pedidos de socorro recebidos, com o objetivo de determinar os recursos necessários e adequados a cada caso. Os CODU coordenam e gerem um conjunto de meios de socorro (viaturas médicas de emergência e reanimação, helicópteros, ambulâncias de socorro) selecionados com base na situação clínica das vítimas, com o objetivo de prestar o socorro mais adequado no menor espaço de tempo, assegurando assistência médica no local da ocorrência e durante o transporte para o hospital adequado.
No local, os tripulantes de ambulância realizam o exame da vítima (pela nomenclatura ABCDE), avaliando défices neurológicos de uma forma geral e estado de consciência através da escala AVDS (alerta, vigil, reage a dor, sem resposta), avaliam os sinais vitais e glicemia, recolhem toda a informação sobre o que aconteceu, antecedentes pessoais, medicação e última refeição. Asseguram ainda o acompanhamento do doente durante todo o transporte mantendo a vigilância e os procedimentos protocolados pelo INEM.

Via Verde AVC

Dada a elevada mortalidade devido a doenças cardiovasculares, o Programa Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Cardiovasculares e o Plano Nacional de Saúde estabeleceu como metas prioritárias a diminuição dessa taxa de mortalidade (principalmente em idades inferiores a 65 anos); a diminuição da letalidade intra-hospitalar e o aumento dos internamentos pelas Vias Verdes.
As Vias Verdes são uma estratégia organizada para abordagem, encaminhamento e tratamento mais adequado, planeado e expedito nas fases pré, intra e inter-hospitalares em situações clínicas mais frequentes e/ou graves, como é o caso do AVE (Acidente Vascular Encefálico), ou do EAM (Enfarte Agudo do Miocárdio). Estas tornam-se fundamentais para melhor acessibilidade dos doentes na fase aguda do AVE, bem como para permitir tratamentos mais eficazes, visto que o fator tempo (inicio sintomas – diagnóstico/tratamento) é fundamental na diminuição da mortalidade.
Para uma boa prática das Vias Verdes será fundamental o reconhecimento precoce dos sinais de alarme, o acionamento do sistema da emergência pré-hospitalar através do 112, a progressiva cobertura nacional por parte do INEM, Unidades de Saúde, meios de diagnóstico e tratamento (eletrocardiógrafos, desfibrilhadores automáticos externos) e a interligação com o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU).

AVC - Sinais e Sintomas




Sinais/Sintomas

O AVE manifesta-se de modo diferente em cada paciente, pois depende da área do cérebro atingida, do tamanho da mesma, do tipo (Isquêmico ou Hemorrágico), do estado geral do paciente, etc.
De maneira geral, a principal é a rapidez com que aparecem as alterações; em questão de segundos a horas (de maneira abrupta ou rapidamente progressiva).
Podemos chamar a atenção para aquelas mais comuns:
Fraqueza: o início agudo de uma fraqueza  num dos membros ou face é o sintoma mais comum dos AVE`s. Pode significar a isquemia de todo um hemisfério cerebral ou apenas de uma pequena e específica área. Podem ocorrer de diferentes formas apresentando-se por fraqueza maior na face e no braço que na perna; ou fraqueza maior na perna que no braço ou na face; ou ainda a fraqueza pode se acompanhar de outros sintomas. Estas diferenças dependem da localização da isquemia, da extensão e da circulação cerebral acometida.
Distúrbios Visuais: a perda da visão num dos olhos, principalmente aguda, alarma os pacientes e geralmente leva-os a procurar avaliação médica. O paciente pode ter uma sensação de "sombra'' ou “cortina” ao olhar ou ainda pode apresentar cegueira transitória.
Perda sensitiva: a dormência ocorre mais comumente junto com a diminuição de força (fraqueza), confundindo o paciente; a sensibilidade é subjetiva.
Linguagem e fala (afasia): é comum os pacientes apresentarem alterações de linguagem e fala; assim alguns pacientes apresentam fala curta e com esforço, acarretando muita frustração (consciência do esforço e dificuldade para falar); alguns pacientes apresentam uma outra alteração de linguagem, falando frases longas, fluentes, fazendo pouco sentido, com grande dificuldade para compreensão da linguagem. Familiares e amigos podem descrever ao médico este sintoma como um ataque de confusão ou stresse.
Convulsões: nos casos da hemorragia intracerebral, do acidente vascular dito hemorrágico, os sintomas podem-se manifestar como os já descritos acima, geralmente mais graves e de rápida evolução. Pode acontecer uma hemiparesia (diminuição de força do lado oposto á hemorragia) , além de desvio do olhar. O hematoma pode crescer, causar edema, atingindo outras estruturas adjacentes, levando a pessoa ao coma.
Prognóstico
O AVE é fatal em 27% dos casos em homens brancos, 52% em homens negros, 23% em mulheres brancas e 40% em mulheres negras. Os pacientes sobrevivem aos AVE’s podem ficar com deficits muito significativos.