terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Fibromialgia - Visão Ocidental

A FM é considerada uma síndrome musculoesquelética crónica, de causa desconhecida e natureza funcional, que origina dores generalizadas nos tecidos moles, não afectando articulações ou ossos (DGS 2004).

A dor crónica fibromiálgica é acompanhada de alterações quantitativas e qualitativas do sono, fadiga, rigidez matinal, sensibilidade à temperatura e à luz, cefaleias e alterações cognitivas, como perda de memória e dificuldade de concentração, parestesias/disestesias, irritabilidade e, em cerca de 1/3 dos casos, depressão, que, pode levar a incapacidade física e emocional grave. As relações entre depressão e FM estão longe de serem claras, visto que a possibilidade da FM causar depressão é contrariada, por exemplo, pelos antecedentes depressivos, invertendo assim a relação temporal entre as duas condições clínicas. No entanto, o caso inverso também esta comprometido já que, geralmente, a FM precede o aparecimento do quadro clínico depressivo. Uma terceira possibilidade surge, onde a FM e a depressão são uma anomalia etiológica comum, não identificada, sendo também uma solução insatisfatória (DGS 2004, Quartilho 2004) .

A FM é considerada primária quando não advém de outra doença, e secundária, quando provém de outra patologia, como o lúpus ou a artrite reumatóide. Atinge cerca de 2% da população adulta, sendo as mulheres 5-9 vezes mais atingidas, surgindo aproximadamente entre os 20 e os 50 anos (DGS 2004, Wolf, et al. 1990).

Como factores de risco associados à dor crónica generalizada temos: sexo feminino, idade entre 40-60 anos, baixo nível económico e educacional e divórcios (DGS 2004).

Existe quem associe a FM a causas virais, traumáticas, de stress emocional e depressão. Já para outros autores, não há nenhum despoletar com causa óbvia ( Australain Rheumatology Association 2007).

A FM, não é progressiva, não causa deformações ou incapacidade física permanentes e não é fatal. Contudo, pode apresentar repercussões como restrição, isolamento social, desvalorização e tornar-se uma sobrecarga para os outros (DGS 2004, Paúl e Fonseca 2001).

Como prognóstico a experiência evidencia que, em geral, o doente reformado antecipadamente devido à FM piora posteriormente em resultado de menor actividade física, redução dos ambientes distractivos, agravamento da depressão, sentimentos de inutilidade e maior disponibilidade para pensar na doença (DGS 2004).

A reavaliação destes pacientes após catorze anos mostra que apresentam alterações pouco significativas ao nível dos sintomas, contudo não desenvolvem uma progressiva incapacidade decorrente da patologia. São raras as desistências do tratamento, porém podem ocorrer, provavelmente, nos primeiros dois anos (Nampiaparampil & Shmerling 2004).

Fisiopatologia

Não é claro o modo como as alterações neuroendócrinas na FM se relacionam com a experiência dos sintomas, do mesmo modo que não está esclarecida a natureza primária, ou secundária, dessas alterações (Ribeiro e Peoietti 2005).

Segundo alguns autores, a FM corresponderia a um estado de hiperexcitabilidade central do sistema nociceptivo, a uma doença deste sistema que envolveria os sistemas de processamento da dor, na dependência de factores psicológicos, evocando o conceito de hipervigilância, e/ou neurobiológicos. Nestes pacientes pode ocorrer a alodinia e/ou hiperalgesia - actividade deficiente nas vias descendentes da modulação da dor, sendo aqui importante o papel da serotonina. Experimentalmente podem ser demonstrados níveis reduzidos de serotonina e do seu precursor, o triptofano, nesses estados de dor crónica (Ribeiro e Peoietti 2005, Quartilho 2004).

Todas estas reacções fisiológicas resultam assim, num aumento do volume de estímulos dolorosos que atingem o córtex cerebral, onde as experiências de desconforto prévias influenciariam igualmente a expressão emocional da dor (Ribeiro e Peoietti 2005).

Ao nível molecular aponta-se o papel crucial de aminoácidos (ex. a glutamina) e de neuropeptídeos (ex. a substância P) no processo de SC, confirmados pelos níveis elevados de substância P detectados nestes pacientes (Ribeiro e Peoietti 2005).

Intervenção

A intervenção multidisciplinar tem demonstrado efeitos positivos na dor, QOL, angústia afectiva e depressão, quando incidindo sobre mudanças comportamentais e utilizando técnicas de redução de stress e estratégias para melhoria da condição (Monika Gustafsson 2002).

O diagnóstico é lento e difícil, já que não existem meios complementares de diagnóstico (MCD) que comprovem a presença de FM.

Assim, o diagnóstico é clínico e de exclusão, baseando-se na presença de (Wolf, et al. 1990):

a) Dor musculoesquelética generalizada;

b) Dor com mais de três meses;

c) Pontos dolorosos - tem de ter 11 ou mais tender points dolorosos, dos 18 existentes (9 bilaterais), aquando da aplicação de uma força de 4kg. A dor existente noutros pontos não serve para diagnóstico (Figura 1).

Figura 1: Tender Points. Retirado de (Williamson 2009)

Na anamnese deve ter-se em conta as horas e qualidade de sono, presença de sonolência diurna, fadiga matinal, sono não restaurador, insónia, ou despertares intermitentes, bem como os antecedentes familiares e historial médico (Wolf, et al. 1990).

Tratamento

O tratamento médico é essencialmente farmacológico (Staud 2010).

O tratamento com hormona de crescimento recombinante pode ser útil no alívio dos sintomas de pacientes com FM (Goldenberg 2007, IASP 2008).

Tratamento fisioterapeutico

O fisioterapeuta deve focar-se ao nível das disfunções e incapacidades que o fibromiálgico apresenta. Desta forma, e visto a FM representar um problema crónico, o principal objectivo da intervenção estará na redução e adaptação da disfunção e na maximização da função existente. Pode actuar-se, ao nível da dor, fadiga, descondicionamento geral, fraqueza muscular e distúrbios do sono. Entre as melhores opções encontram-se o treino aeróbio, hidroterapia, exercícios de força e flexibilidade, termoterapia, TENS e massagem (QWEMengshoel 1999, Offenbacher e Stucki 2000).

Educação

A educação dos fibromiálgicos deve ser parte integrante do plano de intervenção (Goldenberg, Burckhardt e Crofford 2004).

Educação acerca da doença – aprender a lidar com a doença e desempenhar um papel activo no seu tratamento (NIAMSD s.d.)

Sono – Dormir as horas recomendadas e ter um sono tranquilo e repousante pode ajudar a aliviar a dor e fadiga. Dever-se-á então (NIAMSD s.d.):

 Manter hábitos de sono regular;

 Evitar cafeína e álcool no final da tarde e à noite;

 Fazer exercício regular (ex. natação);

 Fazer actividades de relaxamento, como ouvir música suave ou tomar um banho morno, prepara para uma boa noite de sono.

Exercício - Embora a dor e a fadiga possam tornar as actividades diárias e o exercício mais difíceis, é crucial que os fibromiálgicos se tornem o mais fisicamente activos possível. O exercício regular deve então tornar-se parte do estilo de vida normal do paciente, servindo como uma importante experiência no domínio da auto-eficácia (Offenbacher e Stucki 2000).

Correcção postural – As más posturas podem contribuir para o aumento da tensão e da fadiga muscular. Desta forma, deve aconselhar-se e instruir o paciente a manter posturas correctas, mesmo durante a noite (Offenbacher e Stucki 2000).

Adaptações no trabalho – importantes para reduzir a fadiga e a dor. Especificas a cada paciente (NIAMSD s.d.).

Nutrição - Embora algumas pessoas com FM relatem sentirem-se melhor quando comem ou evitam certos alimentos, nenhuma dieta específica foi ainda comprovada como tendo efeito sobre esta síndrome (NIAMSD s.d.).