segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

DOR



A dor é definida pela International Association for the Study of Pain (IASP) como “uma experiência multidimensional desagradável, envolvendo não só um componente sensorial mas também, um componente emocional e que se associa a uma lesão tecidular concreta ou potencial, ou é descrita em função dessa lesão” (DGS 2008).

A Direcção-Geral da Saúde depois de ouvida a Comissão de Acompanhamento do Plano Nacional de Luta Contra a Dor, institui, a “Dor como o 5º sinal vital”.

Importa, assim, que a Dor e os efeitos da sua terapêutica sejam valorizados e sistematicamente diagnosticados, avaliados e registados pelos profissionais de saúde, como norma de boa prática e como rotina, altamente humanizante, na abordagem das pessoas, de todas as idades, que sofram de Dor Aguda ou Dor Crónica, qualquer que seja a sua origem, elevando o registo da sua intensidade à categoria equiparada de sinal vital.

A dor pode ser classificada segundo a duração em aguda ou crónica e segundo a sua fisiopatologia em, nociceptiva, neuropática ou mista (Tabela 1).

Classificação

Tipos

Tempo de Manifestação

Função

Intensidade

Duração

Aguda

< 3 meses

Inerte à função biológica

Correlaciona-se com o estimulo desencadeante

Crónica

> 3-6 meses

Perde a função de advertência e protecção

Não se correlaciona com o estimulo desencadeante


Tipos

Subdivisões

Manifestação

Fisiopatologia

Nociceptiva

Somática

Moinha

Lancinante

Latejante (intermitente)

Visceral

Neuropática

Perifèrica

Queimadura

Formigueiro

Hipersensibilidade ao toque/frio

Central

Mista

Dor com component neuropática e nociceptiva



Dor Músculo-esquelética
Corresponde a toda a dor que tem origem em estruturas músculo-esqueléticas e geralmente tem origem inflamatória, devendo ser avaliada em função da intensidade, duração, frequência, tipo (local/difusa), irradiação, severidade e etiologia/fisiologia. O fisioterapeuta deve ter ainda em atenção a história pessoal e o contexto social/ambiental, bem como a personalidade, posturas antálgicas e consequência nas AVD’S (Strong, et al. 2003).

O processo inflamatório é essencial para a recuperação do dano, no entanto, pode deixar de ser benéfico e tornar-se crónico. Isso decorre de alterações plásticas - neuroplasticidade -, que começam pela lesão inicial, mas resultam em eventos que mantêm o quadro inflamatório, mesmo tendo a lesão primária corrigida. Nestas condições, a inflamação perde sua característica de protecção e torna-se patológica (Strong, et al. 2003).

A intervenção na dor músculo-esquelética deve incidir não só na dor, como na sua causa. Numa dor aguda por exacerbação do processo inflamatório a terapêutica utilizada pode incluir a utilização de gelo, devido ao seu efeito anti-inflamatório, Estimulação Eléctrica Transcutânea (TENS), massagem e outras formas de electroterapia que promovam a regeneração tecidular. A utilização de exercício e outras técnicas específicas para o dano no qual a dor tem origem leva à regeneração da lesão e deste modo também resulta na diminuição da dor. Em situações de dor crónica, numa fase não inflamatória, a aplicação de termoterapia e electroterapia com efeito térmico, pode ter efeitos positivos sobre a dor (Strong, et al. 2003).


Dor Neuropática
Constitui a dor produzida pela actividade neural patológica, daí que esta dor seja uma doença, na medida em que é independente da estimulação das terminações nociceptivas (Lundy-Ekman 2008). Apesar das diferentes etiologias dos estados de dor neuropática, as manifestações clínicas podem ser semelhantes. Frequentemente os pacientes apresentam uma dor tipo queimadura, e também podem sofrer de dores lancinantes, sendo que essa dor pode ser contínua ou intermitente. Esses pacientes geralmente apresentam alodinia ao toque e podem apresentar outras formas de sensibilidade alterada (Strong, et al. 2003).

Além da dor, outras mudanças podem existir, como hiperidrose localizada, temperatura da pele alterada, e mudanças trópicas para as unhas, pele, músculos e ossos (Strong, et al. 2003).

Além do tratamento farmacológico, existe a possibilidade de utilização de TENS e acupunctura para o alívio de dor (Strong, et al. 2003).


Dor Oncológica
O controlo/avaliação da dor relacionada com o cancro é diferente em vários aspectos da dor crónica de origem não cancerosa. Na dor oncológica, a intensidade e a localização da dor podem mudar devido à doença e ao tratamento (Strong, et al. 2003).

No cancro inicial ou intermédio 40-50% dos pacientes sentem dor moderada a grave, enquanto nos pacientes com cancro avançado a incidência da dor é 60-90% (Strong, et al. 2003).

A dor oncológica pode ser considerada crónica ou aguda (visto mudar de acordo com o crescimento do tumor, lesão dos tecidos e tratamentos. Deste modo, a dor oncológica está numa categoria própria, quando é considerada uma síndrome de dor. As síndromes dolorosas no cancro são definidas pela associação de características particulares da dor e sinais físicos consequentes da doença e do tratamento (McMahon e Koltzenburg 2006, Strong, et al. 2003).

Existem três tipos de dor que podem surgir num paciente oncológico (Strong, et al. 2003):
 Dor secundária ao crescimento do tumor e à invasão das estruturas (75%);
 Dor resultante do tratamento da doença (20%);
 Dor não associada ao tumor nem ao tratamento (5%).

A dor oncológica deverá ser avaliada frequentemente para uma compreensão completa das mudanças da mesma e dos factores que influenciam como a proximidade da medicação, actividade física, ansiedade ou hora do dia. A hora do dia é importante porque a dor é frequentemente mais forte ao início da noite e melhor de manhã cedo (Strong, et al. 2003).

As guidelines produzidas pela Agency for Health Care Policy and Research, têm como primeira fonte de avaliação da dor a descrição do paciente. A discrição da dor pode dar pistas acerca da sua causa (Strong, et al. 2003).

A avaliação dos sintomas que intervêm com a dor podem ser avaliados pelo Memorial Sysmptom Assessment Scale (Strong, et al. 2003).

Métodos para avaliação da qualidade de vida (QOL) específicos no cancro incluem a Functional Assessment of Cancer Terapy Scale (FACT scale) e European Organization for Research and Treatment of Cancer QLQ-C30 (Strong, et al. 2003).

A intervenção na dor oncológica pode dividir-se em 5 tipos (Strong, et al. 2003):

 Farmacologia;
 Métodos médicos não-farmacológicos: usados quando os farmacológicos não surtem efeito (terapia com radiação, cirurgia ablativa e procedimentos neurocirúrgicos);
 Métodos físicos não farmacológicos: acupunctura, estimulação cutânea, termoterapia, exercício, posicionamentos e mobilização;
 Educação;
 Abordagens psicossociais.




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