segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Fisioterapia na Doença de Parkinson

Para que a intervenção do Fisioterapeuta seja o mais adequada possível é necessário o conhecimento, por parte do profissional, dos défices associados à doença de Parkinson. 

·        Os doentes com Parkinson têm uma dificuldade aumentada nas habilidades de mobilidade, incluindo mobilidade na cama, transferências e marcha. Problemas posturais afetam a orientação e a estabilidade e são também um fator para o seu declínio de independência.
·        Os défices cognitivos podem estar igualmente presentes e podem variar de mínimo envolvimento até depressão severa e demência global.
·    Interessantemente, apesar de apresentarem normalmente um grau significante de bradicinésia ou movimentos voluntários lentos, analisando as respostas posturais dos músculos (por EMG), podemos verificar que estes doentes usam um padrão complexo de atividade muscular envolvendo músculos em ambos os lados do corpo, de forma a responderem à instabilidade. Esta co-ativação de músculos em ambos os lados do corpo pode resultar em rigidez e numa incapacidade de recrutar estabilidade adequada.
·   Estes pacientes podem estar também incapacitados para modificar padrões de movimento rapidamente em resposta a alterações na tarefa que tinham pensado inicialmente. Estes problemas, num conjunto central, podem levar este doente a usar o mesmo padrão de ativação muscular tanto para responder a perturbações do equilíbrio, como ao sentar ou levantar.
·    Devido à diminuição do controlo postural antecipatório apresentam geralmente “insegurança” ao realizarem alguma atividade funcional, porque são potencialmente destabilizáveis. Para além dos défices neuromusculares primários, como rigidez e bradicinésia, problemas musculoesqueléticos secundários podem ser igualmente desenvolvidos gerando ainda mais limitação de movimentos para o controlo postural.

·        Os pacientes com doença de Parkinson podem também desenvolver alguns problemas relacionados com a organização sensorial. Eles podem ter dificuldade em organizar e selecionar a informação sensorial para o controlo postural. Para além disso, estes pacientes também têm dificuldade em manter o equilíbrio quando estão a realizar múltiplas tarefas.

A informação recolhida na avaliação permite ao Fisioterapeuta delinear um plano de tratamento adaptado a cada paciente, devendo este ser continuamente aperfeiçoado consoante a sua resposta, ou seja, o tratamento é adaptado a cada paciente e é baseado na sua resposta. A intervenção depende assim do próprio paciente, mas também das suas disfunções sensório-motoras, problemas, recursos cognitivos e percetivos, estratégias compensatórias, do ambiente, do objetivo (ou tarefa) e, ainda da sua motivação. Toda a intervenção deve integrar atividades que tornem o tratamento funcional para que os resultados sejam tão duradouros quanto possível.
É preciso não esquecer uma característica básica da reabilitação, e que influencia todo o processo: ela requer um maior envolvimento dos familiares/cuidadores e de uma equipa multi e interdisciplinar. Frequentemente, a equipa que lida com o doente de Parkinson e seus familiares/cuidadores é composta por:
            Neurologista
            Enfermeiros
            Fisioterapeutas
            Terapeutas Ocupacionais
            Farmacêuticos
            Terapeutas da fala
            Psicólogos

Assim, na prática clínica, os fisioterapeutas devem procurar entender a diversidade de problemas comuns a estes utentes, encarando as diversas opções de tratamento numa perspetiva multidimensional.
Os fisioterapeutas são um dos elementos-chave da equipa multidisciplinar necessária na intervenção, podendo influenciar positivamente a manutenção da capacidade funcional e desempenho motor dos utentes. Os objetivos da intervenção devem ser definidos em conjunto pela equipa e com a participação contínua do utente, garantindo o seu papel ativo nas decisões e gestão da sua doença como membro da equipa. Sem objetivos comuns a equipa perde o sentido de orientação, coesão e finalidade.
Os objetivos do tratamento e as sucessivas intervenções podem ser determinados com base na fase em que o paciente se encontra.

Fase Inicial

Os pacientes numa fase inicial têm poucas ou nenhumas limitações. Segundo Hoehn and Yahr, o Parkinson é classificado nas etapas de 1 a 2,5. Os objetivos da intervenção nesta fase bem como nas seguintes são:
            Prevenção da inatividade;
            Prevenção do medo de se mover ou cair;
        Preservação ou melhoria da capacidade física (capacidade aeróbia, força muscular e mobilidade articular).

Fase Intermédia

É na fase intermédia que os pacientes desenvolvem os sintomas mais severos; o desempenho das atividades passa a ser restrito, surgem problemas no equilíbrio e há um aumento do risco de quedas. Os doentes são classificados nas fases 2 a 4, de acordo com Hoehn e Yahr. O objetivo da intervenção nesta fase e na seguinte é preservar ou estimular atividades. Os exercícios são focados para:
            Transferências;
            Posturas;
            Movimentos de alcançar e agarrar;
            Equilíbrio;
            Marcha.

Última fase

Nesta fase os pacientes estão confinados a uma cadeira de rodas ou cama. Estes estão classificados na etapa 5 de acordo com a classificação Hoehn e Yahr.
O objetivo do tratamento é preservar as funções vitais e prevenir complicações, como úlceras de pressão, feridas e contracturas.
O grande objetivo desta intervenção é maximizar e conservar as capacidades funcionais do doente de Parkinson, ao longo dos vários ciclos da sua vida e da sua doença, evitando ou reduzindo o aparecimento de complicações secundárias, através de um processo permanente de reabilitação e numa perspetiva de considerar o indivíduo como um todo.
Outros objetivos incluídos na intervenção são:
            Alívio de dor;
            Recuperação do controlo do movimento;
            Retardar a atrofia por desuso e a fraqueza muscular;
            Manter ou melhorar a amplitude de movimento em todas as articulações;
            Retardar o surgimento de contracturas e deformidades;
            Incrementar o padrão da marcha;
            Melhorar as condições respiratórias, a expansibilidade pulmonar e a mobilidade torácica;
            Manter ou aumentar a independência funcional nas atividades de vida diária;
            Melhorar a auto-estima.

Hoje é geralmente aceite que a fisioterapia é necessária como adjunta à medicação dos pacientes com Parkinson.

Sem comentários:

Enviar um comentário