É um distúrbio do pescoço caracterizado pela contracção contínua dos
músculos dessa região, e por estes também se tornarem mais rígidos fazendo com
que os movimentos da cabeça se tornem muito dolorosos e limitados.
Tipos
de torcicolos:
·
Congénito: caracterizado pela posição viciosa da cabeça (inclinação
para o lado da lesão, rotação para o lado oposto à lesão e flexão da cabeça)
e aparecimento progressivo
de assimetrias facial e craniana. Deve-se à fibrose e encurtamento do músculo
esternocleidomastóideo devido a um mau posicionamento do feto, a lesão nervosa
ou a um traumatismo directo no músculo que ocorre nas últimas semanas de vida
intra-uterina ou durante o parto. Pode ser detectado logo após o nascimento,
mas muitas vezes só se observa semanas ou meses depois. O músculo habitualmente
apresenta uma tumefação palpável, que tende a desaparecer antes do ano de
idade. (Serra, 2001) (kisner & Colby,
1989)
·
Espasmódico: ocorre devido a espasmos neurológicos
irreversíveis, de causa desconhecida, desviam frequentemente a cabeça para um
lado.
·
Traumático:
(tem resolução espontânea)
o Repentino
por contractura muscular: contracção permanente do músculo
esternocleidomastóideo que pode ser resultado de uma má postura do pescoço, um
movimento brusco, tensão, exposição ao frio ou má posição ao dormir. (Serra, 2001)
o Subluxação
rotatória atlantoaxial: resultante de
uma manobra súbita de torção do pescoço que origina um espasmo muscular firme e
exuberante. (Serra, 2001)
·
Por mal formação da ráquis: devido a hemivértebras ou fusões
·
Infeccioso: aumenta a laxidez ligamentar devido á proximidade
com as articulações
·
Por artrite
·
Ocular: devido a paralisia óculo-motora
·
Por tumor ósseo, cerebral ou medular
Torcicolo
congénito
O torcicolo congénito está associado a luxação congénita da anca (em 20%
dos casos), a malformações das vértebras e a escolioses idiopática infantil.
Etiologia
A sua causa não está completamente esclarecida, pensa-se estar associado
a um traumatismo local dos tecidos moles do pescoço imediatamente antes ou
durante o parto. Colocam-se várias hipóteses:
·
Má posição fetal
·
Hemorragia
intramuscular por traumatismo
·
Isquemia muscular
(estase venosa, quase sempre resultando em cirurgia)
·
Utilização de
fórceps
·
Pressões
intra-uterinas inadequadas
Epidemiologia
É uma doença relativamente rara, 4/1000 nados vivos. É a 3ª anomalia
músculo-esquelética congénita mais comum a seguir à displasia da anca e ao pé
boto.
A proporção entre sexo feminino e masculino é de 3:2 e é mais frequente
nas crianças nascidas de parto com apresentação pélvica 30%.
Prognóstico
O prognóstico depende da idade e em função da sua evolução são
distinguidos fundamentalmente dois tipos de torcicolo.
·
Torcicolo congénito postural: presente à nascença com uma frequência de 2,8%.
Difícil de examinar numa criança nos primeiros dias de vida. Esta forma
resultante das contracções uterinas, regride muito bem após o nascimento na
maioria dos casos.
·
Torcicolo muscular congénito: pode existir desde o nascimento, à palpação
sente-se o nódulo no esternocleidomastóideo que se apresenta como doloroso.
Existe uma rotação permanente da cabeça e frequentemente uma plagiocefalia
associada. A evolução habitual desse nódulo é o desaparecimento espontâneo em 2
a 6 meses em 50% dos casos sem deixar marcas. A outra metade evolui para uma
fibrose retráctil do músculo com ou sem torcicolo nos primeiros meses ou anos.
Problemas
associados:
·
Anomalias da coluna
cervical envolvendo C1, C2
·
Anomalias
atlanto-occipitais congénitas
·
Deformidades dos
pés (metatarsus aductus)
·
Plagiocefalia
·
Atitudes
escolióticas
·
Modificação do
eixo-visual
·
Desordens do SNC
Tratamento do Torcicolo Muscular
Congénito
·
Tratamento
Conservador
Na maioria dos casos
(80%) a fibrose não é suficiente para necessitar de cirurgia correctiva, sendo
aplicado um tratamento conservador durante os primeiros 12 meses. A prática
baseada na evidência segundo estudos de Morrinson revelam resultados bons a
excelentes em 84% dos pacientes diagnosticados antes do 1.º ano de vida; e
estudos de Binder uma resolução completa em 70% das crianças tratadas antes de
um ano de vida, independentemente da gravidade ou presença de massa fibrótica.
Na criança de meses a
manobra de distensão do músculo esternocleidomastóideu, repetida várias vezes
ao dia, pelo fisioterapeuta, ou pela mãe da criança após instrução prévia. A
manobra consegue vencer o encurtamento e compensar o crescimento.
Os exercícios de estiramento
podem ser divididos em duas etapas e devem ser realizados por duas pessoas.
Enquanto uma pessoa fixa ambos os ombros da criança, a outra segura a cabeça
com uma mão na base do crânio e outra na mandíbula, tracionando suavemente. Na
primeira etapa o objectivo da tracção é afastar a cabeça dos ombros e em
seguida fazer rotação da cabeça em direcção ao lado oposto de modo a que a
mandíbula se aproxime do ombro oposto ao músculo lesado. A tracção deve ser
mantida por 10 segundos. Na segunda etapa deverá ser feita uma ligeira flexão
da cabeça e ligeira rotação para o lado oposto à lesão e inclinar lateralmente
até a orelha estar em contacto com o ombro.
Inclui:
- aplicação de
órteses
- exercícios de
alongamento passivo do esternocleidomastóideu e trapézio inferior no lado
envolvido
- mobilização da
cintura escapular
- ADM activa (rotação para o lado envolvido) com:
-- exercícios de
fortalecimento do músculo esternocleidomastóideu
--técnicas de
manuseio e posicionamento para corrigir a posição da cabeça do bebé durante a
alimentação e o sono para promover a rotação activa. Ex: Maintland
-- aos 3/4 meses,
a inclinação lateral do pescoço para
fortalecer o músculo esternocleidomastóideu alongado no lado não envolvido é
iniciada por meio de actividades de desenvolvimento como o endireitamento da
cabeça e o rolar.
Implicações a longo
prazo, em crianças com recuperação completa:
- assimetria facial
persistente
- inclinação
intermitente da cabeça com fadiga
- doença e assimetria
funcional (semelhante a hemiplegia mas com exames neurológicos normais)
Duração do tratamento
(resolução completa):
- bebés com massa
fibrótica: 6,9 meses
- bebés sem massa
fibrótica: 4,7 meses
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