A paralisia braquial obstétrica (PBO) é uma lesão mecânica que resulta em
paralisia flácida parcial ou total do membro superior, sendo consequência de
erros ocorridos durante o parto.
Esta
patologia é mais frequente em fetos grandes (três vezes mais em crianças com
peso acima das 4500g) e, partos difíceis (como na apresentação pélvica com uso
de fórceps). Verifica-se no parto normal, quando o obstetra tenta apressar a
saída da cabeça, ainda encravada no estreito pélvico, o qual aplica tracção no
corpo da criança e inclinando-o segundo a manobra de Mauriceau-Levret. Pode
ocorrer lesão nos partos de apresentação cefálica quando se faz uma manobra de
tracção para libertar o ombro.
Segundo
Gabriel (1997) 70% das lesões regridem de forma espontânea e em poucas semanas.
Segundo Weiner (1993) até aos 18 meses 85% dos casos recuperam parcial ou
totalmente. Dunham (2003) refere ainda que 95% recuperam apenas com
fisioterapia.
Fisiopatologia (Mecanismo de Lesão)
No
parto, durante a entrega, há um aumento forçado do intervalo entre a cabeça e o
ombro, o bebe é forçado a lateralizar e flexionar a cabeça e pescoço o que pode
resultar em alongamento e rotura dos elementos do plexo braquial. Quando o
ombro está preso por trás da sínfise púbica (na apresentação cefálica), o
tronco e pescoço são tracionados, enquanto a cabeça da criança é fixada atrás
do estreito osso (na apresentação pélvica). Este mecanismo pode levar a lesões
do plexo braquial.
As
raízes estão preparadas para receber alguma tracção, mas quando ultrapassada, o
traumatismo ocorre, primeiro C5 seguindo-se C6, ou seja, o tronco primário
superior rompe-se. O posterior abaixamento da cabeça do úmero coloca C7 em
tensão, resultando posteriormente em ruptura ou avulsão de C7, será necessária
uma manobra muito intempestiva para provocar uma avulsão de C8 e claro que para
T1 é necessário mais tracção ainda, sendo esta raramente lesada. Na
apresentação cefálica, onde o braço aparece primeiro, a tracção sobre o braço
provoca uma lesão de C8 e T1 isolada.
Epidemiologia
São considerados como factores de risco a obesidade e
a baixa materna, o aumento excessivo de peso durante a gravidez, a diabetes
materna, macrossomia fetal a pélvis plana. A apresentação pélvica, bem como a
distocia dos ombros e o parto prolongado aumentam o risco e a gravidade da
lesão.
Quanto ao lado mais afectado, existe uma pequena
predominância do lado direito, que se pensa estar relacionado com a
apresentação occipito-esquerda anterior, que é a mais comum, e predispõe ao
choque do ombro direito contra a púbis da mãe, durante o parto. As
formas bilaterais representam 3 a 5% dos casos. Os rapazes são mais afectados
com uma percentagem de 59%.
Outra causa etológica é a de lesão congénita,
existindo estudos, baseados em elctromiografia que revelam a existência da
lesão ainda antes do parto. Existindo crianças que nascem com paralisia,
ocorrendo o parto normalmente, sem distocia e sem nenhuma manobra particular
realizada durante o parto.
Etiologia
A
etiologia da paralisia braquial obstétrica é, normalmente, traumática, causada
por tracção do plexo braquial e consequente lesão das fibras nervosas.
Nas crianças de maiores dimensões, na apresentação
cefálica, após a passagem da cabeça pode ocorrer dificuldade na passagem e consequente
dificuldade na libertação do ombro – distocia. Isto faz com que seja necessário
recorrer a manobras externas de tracção e de hiperinclinação da cabeça ou mesmo
ao uso de fórceps, o que pode ter como complicação ou não, a fractura da
clavícula.
Classificação
De acordo com o nível de lesão, as
lesões neurais podem ser classificadas segundo Seddon,
em três graus funcionais:
- Neuropraxia: sem alteração
morfológica neural, definida como bloqueio temporário e localizado da condução
por alteração metabólica e representada clinicamente por paralisia motora,
discreta alteração sensitiva e simpática, apresentando recuperação total ao
longo de algumas semanas. É usual na comoção ou compressão de um nervo por
tracção ou isquemia. (1º grau de sunderland)
-Axonotmesis (ruptura incompleta): ruptura
dos elementos neurais (axónio) internos com a membrana basal intacta (2º grau
de Sunderland); Ocorre regeneração axonal variável orientada pela preservação
do endoneuro. O tempo de recuperação depende, acima de tudo, da distância da
lesão aos efectores (basicamente à placa motora muscular) sendo que recuperação
funcional completa decorre entre 4 a 6 meses após a lesão.
Neurotmese:
determina uma lesão total do nervo com destruição das estruturas internas, originando
uma lesão irreversível. Não ocorre regeneração espontânea, sendo necessário o
tratamento cirúrgico.
A situação mais grave de
lesão é a avulsão (arrancamento de raízes), a qual não deixa qualquer
possibilidade de recuperação nervosa.
Tabela 1- Síntese Classificação segundo o local
de lesão do plexo
Raízes
|
Manifestações
|
|
Erb-Duchenne
|
C5
e C6
|
Postura:
Braço em extensão, rotação interna e adução, pronação do antebraço, flexão do
punho e dedos.
Défices
Articulares: -Perda da abdução e da rotação externa do
braço.
-Incapacidade para a
flexão do cotovelo e
supinação do
antebraço.
Défices
Musculares: deltóide, supra-espinhoso,
infra-espinhoso, pequeno redondo, bicípite, braquial, supinador e
braquioradial.
Défices
Sensibilidade: Possibilidade de deficiência sensorial na
face externa do braço, antebraço, polegar e indicador.
Aspectos
normais: -Punhos e dedos com movimento aproximadamente
normal.
Reflexos -
Reflexo de Moro.
|
Mista
|
C5 a C7
|
Postura:
Semelhante à de Erb-Duchenne, quando a criança se encontra com o tronco na
vertical. Quando em dorsal apresenta braço em extensão, rotação
interna e adução, flexão do cotovelo,
pronação do antebraço, flexão do punho e dedos.
Défices Articulares: paralisia parcial ou total da extensão
activa do punho e dos dedos.
Défices Musculares: Atinge todos os músculos referidos no caso de
Erb-Duchenne e ainda uma debilidade visível do tricipite.
Reflexos –
Moro Assimétrico e preensão
Não tem sinais
vasomotores;
Reage a estímulos
dolorosos
|
Déjérine-Klumpke
|
C8
e T1
|
Postura:
Flexão do cotovelo, supinação do antebraço, extensão do punho e mão em garra.
Défices Musculares: -Paralisia
dos músculos da mão, Flexor Radial e Cubital do Carpo e Atrofia da eminência
da região hipotenar
Manifestações:
-Síndrome de Horner (ptose palpebral, enoftalmia, miose, e anidrose facial)
quando há envolvimento das fibras simpáticas cervicais e dos primeiros nervos
espinhais torácicos (avulsão da raiz anterior de T1).
- Mão em garra
|
Completa
|
C5
a T1
|
Postura:
Assimétrica,
todo membro superior apresenta Paralisia "Flail limb"
Défices
Musculares: Sem nenhum tónus muscular.
Reflexos:
O
reflexo de Moro é assimétrico e o de
preensão está ausente.
Manifestações:
Síndrome de Horner, Distúrbios motores
e Contracturas tecidos moles
Anomalias
vasomotora, não respondendo a estímulos sensitivos.
|
Prognóstico
Na maioria dos casos de paralisia braquial
superior, o prognóstico é bom, recuperando-se
a função integral em poucos dias ou semanas,
se o tratamento for adequado.
A forma completa e a braquial inferior são de
prognostico mais sério, com poucas possibilidades de recuperação, permanecendo
sequelas motoras associadas a alterações tróficas. Nos casos de paralisia
completa, nota se que o membro afectado é nitidamente hipotrófico em relação ao
sadio. Nos casos de lesão parcial ou total do plexo braquial, persistente por
mais de dois meses, estará indicada avaliação para possível procedimento
cirúrgico.
Nos casos não tratados, poderão estabelecer
se retracções musculares e tendinosas levando a posições viciosas dos diversos
segmentos, que posteriormente necessitarão de correção cirúrgica plástica e/ou
ortopédica.
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