A Espondilite Anquilosante é uma
doença inflamatória osteoarticular crónica por disfunção auto-imune, resultando
na ossificação dos ligamentos, articulações e discos intervertebrais. É caracterizada
como uma doença de potencial multissistémico, isto é, pode manifestar-se em
diversos órgãos e diversas partes do corpo.
A EA é caracterizada por uma reação
inflamatória difusa e por dor em várias articulações, especialmente ao nível da
coluna vertebral, que limita, progressivamente, a mobilidade vertebral e
torácica durante todo o curso da doença.
Esta
doença faz parte das espondilartrites sero-negativas , que é um grupo
interrelacionado de doenças que apresentam certas características: alterações
patológicas que afetam basicamente as fixações ligamentares aos ossos
(entesite), acometimento das articulações sacroilíacas juntamente com
artropatia inflamatória periférica, ausência de fator reumatóide e associação
com o HLA-B27.
Nesta doença, as pessoas são afetadas
durante os seus anos mais produtivos e de maior responsabilidade familiar. Em
geral, inicia-se entre os 15 e os 30 anos de idade, mas, em cerca de 10% dos
casos, os primeiros sintomas surgem no final da infância ou na adolescência. Em
contrapartida, o início após os 40 anos é relativamente raro.
Durante
muito tempo aceitou-se que a EA afetava o sexo masculino em cerca de 80 % dos
casos, mas tem-se verificado que isso não corresponde à realidade. O aumento na
percentagem das mulheres atingidas tem subido de estudo para estudo, à medida
que são utilizados melhores critérios de identificação da doença, uma relação
de 3 homens para 2 mulheres poderá estar próxima da realidade
A EA é
mais frequente na raça caucasiana, já que a presença do HLA-B27 é significativamente
maior.
A causa exata da EA é
desconhecida, mas fatores genéticos e ambientais desempenham um papel
importante na sua patogénese.
Tem sido
confirmada uma forte ligação entre a EA o gene HLA-B27, no entanto, não há
ainda um consenso geral sobre a forma como o HLA-B27 contribui para a suscetibilidade
da EA.
O papel
dos fatores ambientais permanece indefinido, bem como a compreensão da EA
envolver a lesão de ligamentos e de tendões (entesites) ou o envolvimento das
articulações sacroilíacas.
As alterações patológicas são
iniciadas por uma agressão autoimune desconhecida, que provoca o processo
inflamatório. Este inicia-se na sacroilíaca, progredindo para a coluna e articulações
periféricas, e tem ação lesiva ao nível da fibrocartilagem esquelética, da
cartilagem hialina, dos ligamentos e do osso periarticular, levando à anquilose
condroóssea e fibrótica.
No processo inflamatório ocorre infiltração
de macrófagos que levam à sinovite e às entesites. Posteriormente, os
macrófagos são substituídos por linfócitos, promovendo a libertação de um
grande número de mediadores inflamatórios, principalmente TNF, fator de
crescimento vascular endotelial e IL-1. Estes mediadores inflamatórios provocam
a formação de pannus (tecido
inflamatório proveniente da sinovial de uma articulação, que forma uma faixa
aplicada sobre a cartilagem articular) e de tecido de granulação, havendo uma
reabsorção óssea, bem como uma diminuição dos proteoglicanos. Após estes
acontecimentos, como há deformação repetida nas estruturas referidas (por
exemplo a erosão óssea), a atividade osteoclástica do osso predomina a
osteoblástica, provocando mais desgaste ao nível do osso, bem como a libertação
do cálcio. Esta libertação do cálcio por parte do osso provoca a respetiva
calcificação, que apresenta uma evolução ascendente, ou seja, tem início ao
nível da sacroilíaca e progride para a coluna e articulações periféricas
através da corrente sanguínea.
Posteriormente, nas
lesões mais avançadas, ocorre uma ossificação endocondral que leva à anquilose.
Na coluna, este processo
apresenta-se com um formato de coluna em bambu, devido ao processo de
ossificação nas fibras exteriores do disco intervertebral que formam os
sindesmófitos, sendo estes conhecidos como uma formação de pontes ósseas entre
vértebras adjacentes. Ocorre também a formação de osteófitos formados por
ossificação endocondral.
Quanto à dor sentida pelos pacientes com EA, é de
carácter nociceptivo ou inflamatório.
A
dor nociceptiva
inicia-se num recetor periférico e, conforme a localização desse recetor, pode
ser classificada em dois tipos gerais.
·
Dor
somática: quando o recetor está localizado em tecidos originados da
somatopleura (estrutura embrionária que vai dar origem á pele, músculos,
tendões, ossos e articulações);
·
Dor
visceral: em que o recetor está localizado nos tecidos oriundos da visceropleura
- vísceras em geral, vasos sanguíneos, serosas, meninges, entre outros.
A
hipersensibilidade é a principal característica da dor nociceptiva e resulta de
alterações drásticas na função do sistema nervoso. Este conjunto de alterações,
denominadas plasticidade do sistema nervoso, é um fenómeno que acontece
perifericamente por redução do limiar de ativação dos nociceptores, bem como
centralmente, pela resposta aumentada da medula espinhal aos estímulos sensoriais.
Estímulos
mecânicos, térmicos e químicos ativam nociceptores associados às fibras Aδ e C
para avisar sobre um estímulo nocivo. Cada estímulo está associado com um certo
grau de inflamação que inicia uma cascata de sensibilização periférica com
eventos celulares e subcelulares. Células lesadas e fibras aferentes primárias
liberam uma série de mediadores químicos, incluindo substância P, neurocinina A
e peptídeo relacionado com o gene da calcitonina, que têm efeitos diretos sobre
a excitabilidade de fibras sensoriais e simpáticas. Estes mediadores também
promovem vasodilatação com extravasamento de proteínas plasmáticas e o
recrutamento de células inflamatórias, levando a todo o processo referido na
fisiopatologia.
Olá, gostei muito das informações expressas e me ajudou muito em um trabalho que estou fazendo sobre espondilite anquilosante. Gostaria de saber as referências bibliográficas utilizadas para a parte inflamatória (e da consequente ossificação) da doença. Grata
ResponderEliminarOlá, boa tarde.
EliminarSó agora vi o seu comentário.
a bibliografia usada foi Khan, M A. Ankylosing Spondylitis. The facts. Oxford: Oxford University Press, 2002 para o processo inflamatório e; Andrade e Carvalho s.d., Sangala, et al. 2008 para a ossificação.
Obrigado pelo seu comentário